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[Resenha] O coletor de espíritos - por Raphael Draccon

27 setembro 2017


Título: O Coletor de Espíritos
Autor(a): Raphael Draccon
Editora: Rocco
Páginas: 272
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Sinopse: Quando a chuva aflige o vilarejo de Véu-Vale pelo terceiro dia consecutivo, as ruas iluminadas por tochas ficam desertas; as janelas, uma a uma, se fecham; nesses dias, quem caminha pelas ruas de Véu-Vale caminha sozinho. Em O coletor de espíritos, novo romance de Raphael Draccon, um dos principais nomes da literatura de fantasia nacional, Gualter Handam, antigo morador do vilarejo e hoje um psicólogo prestigiado, se vê obrigado a retornar ao local que povoa seus pesadelos. Depois de tantos anos, ele terá de encarar antigos fantasmas e enfrentar uma força desconhecida e furiosa, numa jornada de sacrifício e redenção que poderá finalmente libertar todo um povo das garras do medo.

De apenas um psicólogo para um psicólogo renomado e conhecido entre os famosos. Assim foi a carreira de Gualter, cuja primeira vez que atendeu uma celebridade fez milagres em sua vida e, então, uma grande porta lhe fora aberta na profissão. Bem estabelecido financeiramente e noivo de Marina, uma mulher simples e companheira para todas as horas, sua vida parecia ir de bem a melhor. Mas Gualter é um ex morador de véu-vale. E Véu-Vale é onde coisas estranhas acontecem...

"Há muito tempo, afastado do mundo, existia esse lugar intocado. Rodeado por ruelas sombrias, sobrevivia de forma precária ao tempo que corria ao redor, como se todos os dias fossem iguais."

Uma cidadezinha isolada no meio do nada. Onde as pessoas nascem, crescem e de lá não saem. A maioria delas. Todos se conhecem e não há muitas novidades de um dia, semana, ou mês para o outro. Um lugar tranquilo para se viver, aparentemente. Ou não. Porque a pequena Véu-Vale representa, também, um cenário de lendas. Uma delas, por exemplo, é a do terror dos dias de chuva. Dias em que os moradores trancam e retrancam suas portas e janelas, não se vê uma alma viva perambulando pelas ruas. Os pais abraçam seus filhos menores, as mães rezam agarradas à seus terços. Seus temores? Algo que lhes é desconhecido, mas que eles acreditam estar lá fora. A espreita. Uma espécie de horror maligno ainda mais forte que os trovões ruidosos e mais cruéis que a chuva impiedosa. Rege a lenda que, todo terceiro dia de chuva na cidade, é também dia em que os espíritos que julgam ter morrido injustamente saem de suas tumbas... e é então que o caos se instala.

"Mas, se havia o silêncio, era apenas o humano. Lá fora, por debaixo da agonizante tensão trevosa que se esgueirava para além de casas de madeira e pau a pique, estava o inimigo de suas emoções. Colunas vertebrais tensionavam-se quando a atmosfera rosnava descargas elétricas, ainda que ninguém ali tivesse medo do acorde feroz do trovão, nem do toque da água, nem do clarão que denunciava o encontro de nuvens. Na verdade, o que aqueles moradores temiam não era o fenômeno, nem seus parentes naturais. Não era o odor atmosférico.
Nunca a chuva.
Mas aquilo que vinha com ela."

Gualter ainda não sabe, mas seu mundo confortável está prestes a ruir. Tudo começa quando, em uma madrugada, ele recebe o telefonema de um antigo melhor amigo de Véu-Vale, com quem não tinha contato a mais de dez anos, avisando que sua mãe sofreu um infarto. Ele também não a vê a muito tempo. Ele não vê sua família inteira há muito tempo, aliás. É como se tivesse deixado toda aquela parte de sua vida para trás. Agora, porém, parece que é hora de voltar. Sentindo-se um intruso, ele retorna com a noiva à cidade natal. Um irmão ressentido, Carlos, uma irmã que ele nem conhecia, Carolina, e uma mãe bastante velha, é o que ele encontra. Fora isso, tudo parece igual. Igual demais, talvez... como pessoas que ele acreditava já terem morrido, ainda estarem por lá. Como os silêncios tenebrosos nos dias de tempestade, como as estranhas mortes sem sentido que às vezes vinham com eles. O que era para ser uma pequena estadia de Gualter e Marina em Véu-vale poderá se reverter em dias de perturbação e total desconcentração na vida do psicólogo. Ele ficará cara a cara com seus maiores medos e com a certeza do quão fundamentados eles são. Se encontrará obrigado a buscar respostas e resolver pendências que talvez já devesse ter resolvido, há anos. Ela, por outro lado, terá de ser o o equilíbrio que manterá a sanidade do noivo, quando nada mais for capaz de fazê-lo.

"− Você sabe o que é sinestesia?
Marina levou um susto com a pergunta. Quando se virou, Gualter estava na janela observando o céu escuro.
− Acho que sim. É um trabalho de equipe em prol de um objetivo.
− Isso é “sinergia”. Sinestesia é um caso científico. É a condição de quem tem algumas ligações cerebrais cruzadas que ligam um sentido a outro...
− Como assim?
− Toda vez que a pessoa se deparar com a cor amarela, por exemplo, ela pode acabar associando-a a um gosto amargo.
− Interessante! Mas o que tem a ver com você? Você tem isso?
− É como se eu tivesse.
− E qual o motivo dessa quase sinestesia?
− O cheiro. Ele traz o gosto... − Ele passou os dedos entre os lábios e os observou, como que procurando ali encontrar resquícios de algo que não existia. − É algo tão vívido, que sinto vontade de vomitar.
− Um gosto? − Ela parou, impressionada. − Mas um gosto de quê?
−  Um gosto de sangue."


O coletor de espíritos é narrado sempre em terceira pessoa, dividido em 50 capítulos mais um epílogo.






Para começar a expor minhas impressões a respeito de O coletor de espíritos eu queria dizer que, Raphael Draccon, você me ganhou desde a dedicatória deste livro. Ela foi escrita com tanto amor e de forma tão simples que eu já me senti cativada, logo ali.

Eita escrita fluída e leitura que me envolveu, do início ao fim. Um livro para se abrir e devorar em algumas horas. Apesar de poucas resenhas feitas do estilo, suspense com essa pegada terrorística é um dos meus gêneros favoritos. Mas, claro, suspense/terror que assusta de verdade, que faz a gente pensar que ouviu coisas no silêncio da noite e dormir encolhidinha de medo. Sim, adoro! O coletor de espíritos não me fez dormir encolhida, vai, mas não me decepcionou em nenhum dos outros aspectos. Não é um terror do tipo terrorzão, mas é um terror suficiente. Mais suspense que terror, talvez, ou talvez apenas fantasia (uma fantasia que dá medo!) mas ainda assim é válido. Para mim o ponto mais positivo é que o autor soube nos levar para dentro da história, sabe? Ele me fez estar lá. Me fez sentir as gotas grossas e frias da chuva, ouvir o vento uivar sem parar e minha pele se arrepiar com o mal gélido que rondava a pequena Véu-Vale. Inclusive, Véu-Vale foi o cenário ideal para este tipo de enredo. Tem todo um climinha misterioso e levemente macabro que faz a gente estremecer.

A família de Gualter é, digamos assim, bastante conturbada. Um pai assassinado, uma irmã que casou-se com seu assassino. Já deu para ter uma ideia, né? E todos estes conflitos só tornam cada página ainda mais saborosa.

Em relação aos personagens, o autor também não pecou. O protagonista, Gualter, é um cara de coração gigante que apesar de aparentar frieza às vezes, me despertou um imenso carinho e minha torcida pelo melhor, o livro inteiro. Sua noiva, Marina, é alguém que nos instiga de tanta vitalidade e coragem que transmite. Seu jeito companheira, compreensiva e interessada pelos mistérios do noivo é admirável. Além disso, a história também apresenta personagens secundários muito cativantes como dona Anastácia, por exemplo, mãe de Gualter. Maravilhosa!

Não sei se isto é um ponto negativo ou um reforço do quanto o livro me envolveu, mas penso que os capítulos poderiam ter sido maiores e mais detalhados.

Recomendo O coletor de espíritos para qualquer um que curta histórias de suspense, mistério e, claro, esteja disposto a sentir um medinho. Vale a pena cada paranoia que vem depois, garanto.





Isabela Rocha
Estudante de jornalismo. Apaixonada incorrigível pelas palavras.
Aventuro-me por todos os gêneros,
desde romances água com açúcar, até os temíveis terror / suspense.
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